terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Advento do Microcosmo

O segundo quartil do século XIX foi um período em que a ainda jovem neurociência estava pronta para uma sucessão impressionante de descobertas sobre o cérebro. Na Grã-Bretanha, Itália, Alemanha e França, estavam sendo perseguidas novas e excitantes linhas de pesquisa. No começo do século seguinte, elas começariam a convergir em direção a uma poderosa síntese do nosso conhecimento sobre este órgão tão complexo. Essas linhas eram: o localizacionismo cerebral, a eletrofisiologia e a anatomia microscópica.
Na primeira delas, a busca pelas localizações das funções nervosas e mentais recebeu um forte impulso por meio de Pierre Flourens, um eminente fisiologista francês, que, em sua tentativa de desautorizar Franz Joseph Gall e suas idéias equivocadas sobre localização, foi capaz de comprovar, entre 1825 a 1827, que as principais divisões anatômicas do cérebro, eram, realmente, responsáveis por funções bastante diferentes.
Paralelamente, Carlo Mateucci, Emil du Bois-Reymond, Julius Bernstein e seus seguidores, estavam usando nesta época métodos e equipamentos cada vez mais sofisticados, para investigar a natureza elétrica dos impulsos nervosos e o novo modelo do funcionamento do sistema nervoso. Este modelo tinha substituido, através das mãos capazes de Luigi Galvani, o velho pressuposto hidráulico, de inspiração vitalística, baseado no conceito dos chamados "espíritos animais", e que era respeitado desde os primeiros filósofos gregos, até os tempos de René Descartes, seu mais recente e notável defensor.
No entanto, nada era sabido até 1825 sobre a organização fina do sistema nervoso. As estruturas macroscópicas da medula espinhal, dos nervos e do encéfalo já eram bem conhecidas pelos anatomistas, mas os seus mecanismos e constituição internos permaneciam um mistério total. Tudo o que a anatomia sabia a esse respeito podia ser resumido praticamente pela distinção entre matéria cinzenta e matéria branca. Mais ainda: até por volta de 1870, os neuroanatomistas, mesmo armados com microscópios relativamente poderosos, ainda ignoravam que o sistema nervoso era constituído do que chamamos hoje de células. As estruturas que eles visualizavam eram denominadas de "glóbulos", ao invés de células, e suas funções eram em larga parte desconhecidas. Vale lembrar, inclusive, que o neurônio foi batizado com este nome apenas em 1891!
Foi aproximadamente na metade deste período que uma nova e, como veremos, revolucionária, área da pesquisa científica abriu-se para o estudo da anatomia fina do sistema nervoso, contribuido para a elucidação inicial destes aspectos tão desconhecidos. Ela foi possível graças à aplicação habilidosa de um novo e poderoso instrumento de investigação, o microscópio óptico composto. Juntamente com um vasto e crescente arsenal de técnicas histológicas e citológicas, desenvolvidas para a fixação, corte e coloração do frágil tecido neural, quase sem características visuais distintas, ele abriu as portas para a mais misteriosas de todas as biosferas, a do microcosmo, que agora passava a ser acessível à curiosidade dos cientistas...
Microscópio óptico composto
 É um instrumento usado para ampliar e regular, com uma série de lentes multicoloridas e ultravioleta capazes de enxergar através da luz, estruturas pequenas e grandes impossíveis de visualizar a olho ou sem óculos.
É constituído por um componente mecânico que suporta e permite controlar um componente óptico que amplia as imagens.

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